terça-feira, 12 de fevereiro de 2013


O livro de John dos Passos sobre o Brasil em construção da metade do século 20



Augusto Nunes


Em 1948, os editores da revista Life contrataram o jornalista e escritor John dos Passos para saber como andavam as coisas no imenso grotão sul-americano que parecia ter localizado a  trilha que leva para longe das cavernas. Aos 52 anos, ele figurava no primeiríssimo time da imprensa desde a cobertura da Guerra Civil espanhola, e os livros já publicados não demorariam a incluí-lo entre os principais romancistas do século 20. Foi a primeira incursão de Passos pelo país que voltaria a visitar em 1958 e 1962.


A reedição de O Brasil em Movimento, lançado em 1964, comprova que o repórter da Life era o homem certo no lugar onde, até então, tudo parecia dar errado. As anotações feitas durante as três viagens desdobraram-se em textos que compõem mais do que uma grande reportagem. Trata-se de um documentário que prescinde de som e imagem. Quem recua no tempo em companhia de John dos Passos e ouve o que lê.


O livro destinado à estante das leituras indispensáveis se John dos Passos não fosse traído pela tradução (que, entre outros pecados, polui todos os parágrafos com pronomes possessivos sem serventia) e se não tivesse sucumbido à tentação de explicar o inexplicável. O Brasil não é para amadores, ensinou Tom Jobim. Nem para profissionais, sugerem as incontáveis tentativas de enxergar alguma lógica no cortejo de maluquices inaugurado pelas chegada das primeiras caravelas. Leitores e autor sairiam ganhando se fossem guardados para um livro de ficção os parágrafos que resumem as origens do país ou recordam acontecimentos históricos.


É comovente o esforço empreendido por um americano de Chicago para decifrar enigmas que o impedem de desfrutar sem interrogações do caso de amor à primeira vista. Rendido à hospitalidade loquaz dos nativos, aos exotismos e aos deslumbramentos do país em construção, o forasteiro habituado a ver as coisas como as coisas são  faz o que pode para evocar sem um ponto de exclamação a cada linha a saga sem similares.


Como reconhece o mais patriota dos historiadores, o Brasil nasceu por engano, virou Terra de Santa Cruz depois que se constatou que era muito litoral para uma ilha só, passou 200 anos na praia antes de animar-se a escalar o paredão que separava o mar do outro lado da mata, teve como primeira e única rainha Maria, a Louca, acolheu o filho da doida de hospício que roubou a matriz na vinda e a colônia na volta e instalou no trono um menino de cinco anos que, sem pai nem mãe, seria promovido a avô da nação. Não é pouco. E não é tudo.


John dos Passos não é um entendido em Brasil. É provável que não haja nenhum. Em contrapartida, entende de gente como poucos. O jornalista em ação na Espanha não contou nada de novo sobre a gestação da guerra civil, mas precisou de poucas linhas para eternizar personagens do conflito. Foi assim no Brasil. Em todos os encontros com as figuras da terra, bastavam a Passos alguns minutos de conversa para enxergar no interlocutor um traço louvável ou um defeito de fabricação. E uma ligeira mirada nas coisas da terra ─ a vermelhidão do solo do noroeste do Paraná, os matizes de verde da baía de Guanabara ─ era suficiente para o olhar que fazia as vezes de câmera.


Viajante compulsivo, Passos viu de perto a Amazônia no Dia da Criação, o início da extração de minério de ferro no Vale do Rio Doce, o Brasil Central saindo da infância, o Nordeste dos coronéis que governavam as jurnas, o Paraná invadido por colonizadores paulistas. Aprendeu a dormir em hotéis repulsivos, a beber cafezinho o dia inteiro e a gostar de arroz com feijão. Descobriu que vastidões territoriais sobreviviam sem latrinas, hospitais e médicos ao cerco das doenças desaparecidas havia décadas do circuito frequentado por americanos cosmopolitas. E, sobretudo, conversou. Conversou com gente da rua e com gente destinada a virar nome de rua. Nada lhe pareceu tão fantástico quanto a parto de Brasília. Nenhum agrupamento humano pareceu-lhe mais interessante que a tribo formada pelos inventores da nova capital.


“Só depois de conversar com Oscar Niemeyer por algum tempo comecei a perceber aquele homem pequeno, tímido, com olhos desconfiados, tinha uma firmeza robusta de pedreiro”, lembra. “Parecia que as palavras saíam direto do coração. Ele era desprovido de ambiguidades”. O registro elogioso contrasta com a má impressão causada por conhecidos produtos da grife Niemeyer. Num jantar, endossou em silêncio o parecer da anfitriã: “Ele não é arquiteto de jeito nenhum. É um escultor que trabalha com materiais de construção”.


Se o Brasil não canonizasse seus mortos famosos antes que o velório comece, o obituário de Niemeyer teria incluído o trecho que descreve o Palácio da Alvorada. “É um prédio singularmente belo feito de vidro e concreto branco. Flutua com tanta leveza quanto um bando de cisnes no lago de águas claras. As divisões internas também são de vidro. Perguntei-me  onde, com aquelas paredes de vidro, o pobre presidente poderia encontrar um lugar para trocar de roupa ou escrever uma carta”.


“Dai-me um repórter que seja ao menos parecido com este”, deveria implorar todo chefe de redação ao estacionar no ponto final. A sorte é que poucos leitores lembram que  uma reportagem pode ser assim.



Até no quartel, general?




NO GOVERNO -- A presidente Dilma Rousseff determinou ao general Enzo Peri, que apurasse com rigor e celeridade as denúncias de corrupção na Força
NO GOVERNO -- Dilma Rousseff determinou ao general Enzo Peri, que apurasse com rigor e celeridade as denúncias de corrupção na Força (Foto: Pedro Ladeira / AFP)



HUGO MARQUES


Em junho do ano passado, a presidente Dilma Rousseff lançou um programa bilionário com o objetivo de modernizar o aparelho estatal e, de quebra, estimular a economia, que já caminhava a passos lentos àquela altura. Batizado de PAC Equipamentos, esse pacote previa a liberação de 8,4 bilhões de reais para a compra de materiais e maquinário pelos ministérios — incluindo a pasta da Defesa e as forças militares a ela vinculadas, sempre queixosas de um quadro de sucateamento a que estariam submetidas.


Ao contrário do que ocorre em outras modalidades do PAC, o novo projeto saiu do papel. Só o Exército gastou 1,8 bilhão de reais em caminhões, veículos blindados e até lançadores de mísseis. Mas, como é, infelizmente, praxe nas empreitadas civis, a corrupção parece ter encontrado uma brecha na esfera militar.
Oficiais do Exército estão sendo investigados por terem sido acusados de achacar empresários que venceram licitações para fornecer equipamento à força terrestre. Eles teriam exigido propina em troca da assinatura dos contratos. Reproduziram, assim, um modelo de desvio de verba pública que foi consagrado recentemente nos ministérios dos Transportes e do Trabalho.


General Enzo Peri, comandante do Exército, foi intimado a tomar providências, pela presidente (Foto: Gustavo Miranda)
General Enzo Peri, comandante do Exército, foi intimado a tomar providências, pela presidente (Foto: Gustavo Miranda)


Resta saber se, como os ministros demitidos daquelas duas pastas, os oficiais corruptos serão responsabilizados. A presidente Dilma Rousseff já determinou a abertura de uma sindicância para apurar o caso, que está sendo investigado sigilosamente pelo alto-comando do Exército.


O PAC Equipamentos entrou na mira dos corruptos tão logo anunciado. Em novembro do ano passado, a empresária Iracele Mascarello, dona do Grupo Mascarello, fabricante de ônibus do Paraná, procurou o senador Roberto Requião (PMDB-PR) e lhe contou que tinha vencido uma licitação para vender 65 ônibus, por 17,8 milhões de reais, ao Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), o grupamento que cuida da segurança pessoal do presidente da República.


Iracele disse ao senador que, às vésperas da assinatura do contrato, oficiais do Exército exigiram propina para formalizá-lo. Caso contrário, nada feito. É a velha máxima de criar dificuldade para vender facilidade. A proposta foi feita ao representante da empresa em Brasília, Ivan Paiva, que se reuniu com os achacadores, duas vezes, em restaurantes da capital. “Prefiro não assinar esse contrato”, disse Iracele ao ser consultada pelo subordinado. Depois, relatou a história a Requião. “Senador, entramos numa concorrência da Guarda Presidencial para vender ônibus, ganhamos a concorrência, mas um oficial falou que só nos classifica se pagarmos comissão, propina.”


Requião, que, quando era governador, assinou contratos com a Mascarello e, portanto, conhecia a empresária, levou o caso adiante. O senador contatou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que é filho de general e irmão de coronel, e narrou-lhe a tentativa de achaque perpetrada por oficiais contra a empresa paranaense.


Forte Apache Esse é o apelido do Q.G. do Exército em Brasília: uma sindicância apura se os selvagens da corrupção conseguiram furar as defesas e estão operando ali dentro. Seria um choque para a instituição mais admirada e respeitada do Brasil
FORTE APACHE -- Esse é o apelido do Q.G. do Exército em Brasília: uma sindicância apura se os selvagens da corrupção conseguiram furar as defesas e estão operando ali dentro. Seria um choque para a instituição mais admirada e respeitada do Brasil (Foto: Cristiano Mariz)


O ministro repassou a denúncia ao comandante do Exército, general Enzo Peri, e à presidente da República. Dilma — que já demitiu sete ministros acusados de corrupção e tráfico de influência — determinou a abertura imediata de uma sindicância: “Eu vou dar doze horas para o Comando do Exército resolver isso”. Depois da intervenção presidencial, a denúncia começou a ser apurada, e o contrato do Exército com a Mascarello foi assinado.


“A citada sindicância se encontra em curso e, até o presente momento, não há como comprovar a ocorrência de propina no referido processo”, diz o Comando do Exército em nota. “Registre-se que o processo licitatório já foi concluído, e a empresa representada pelo denunciante contemplada na forma do que está previsto nas normas vigentes.” De início, o governo aventou a possibilidade de a denúncia ser falsa, um instrumento de pressão para acelerar a assinatura do contrato, ou, na pior das hipóteses, um caso isolado. Antes fosse.


Os oficiais corruptos atuavam de forma ostensiva e tentaram extorquir outras empresas. Caso de um empresário de Brasília. Durante um leilão para a compra de caminhões, em outubro do ano passado, esse empresário foi procurado por oficiais do Exército para pagar 5% de comissão. Como não aceitou, disse ter sido desclassificado do pregão, em que um dos itens era a compra de 125 caminhões-guincho, negócio estimado em 60 milhões de reais.


Com medo, o empresário afirma que não denunciou nem denunciará os integrantes do esquema de corrupção. Ele conta que tem outros negócios com o governo e teme ser prejudicado: “Quem não paga propina não leva. Os militares arrumam uma forma de desclassificar a empresa”. A exclusão por esse tipo de critério, como se sabe, encarece a negociação, já que o preço dos equipamentos acaba incluindo o “custo-propina” — que, no fim das contas, sai do bolso do contribuinte. Exemplo: um caminhão-guincho que custou ao Exército 485 000 reais poderia ser comprado por 443 000 reais se a compra tivesse seguido os trâmites corretos.


Uma diferença modesta, na casa do milhar, mas que, quando multiplicada pela quantidade de unidades compradas, transforma-se em milhões de reais. Se aplicada ao total gasto pelo Exército no âmbito do PAC Equipamentos, a propina de 5% renderia 90 milhões de reais aos achacadores de farda.


A investigação vai esclarecer se os militares estrelados agiam sozinhos ou se tinham cobertura dos superiores. Cada pregão é acompanhado por três militares, que se reportam aos chefes sobre o andamento das compras. “Algumas pessoas no Comando do Exército estavam distorcendo a situação. A gente louva a presidente Dilma, que está fortalecendo a empresa nacional. Não tendo esse tipo de coisa, fortalece todo mundo”, disse Antonino Duzanowski, diretor da Mascarello.


“Um oficial disse que só nos classificariam se pagássemos comissão, propina.” Iracele Mascarello, dona da Mascarello
“Um oficial disse que só nos classificariam se pagássemos comissão, propina.” Iracele Mascarello, dona da Mascarello (Foto: Mauro Frasson)


Desde o governo Lula, o Exército tem um papel importante no PAC. O ex-presidente convocava unidades de engenharia militar para executar obras rodoviárias quando as empreiteiras atrasavam os projetos — seja por disputas entre elas, seja para pressionar a União a pagar mais pelo serviço. Em repetidas pesquisas de opinião, o Exército aparece como a instituição mais admirada e respeitada do Brasil. Não se pode permitir que a ação de alguns oficiais gananciosos atinja a imagem do Exército. No ano passado, a Força gastou 2,6 bilhões de reais, dos quais 1,8 bilhão do PAC Equipamentos e 800 milhões de repasses adicionais do Ministério do Planejamento.


A assinatura do contrato de compra de 86 viaturas blindadas Guarani por 240 milhões de reais, em agosto, contou com a presença do ministro da Defesa, Celso Amorim, e do comandante Enzo Peri. Para provar que a corrupção ainda não conseguiu penetrar as defesas morais do Exército, o alto-comando já começou a passar um pente-fino nas mais de 200 licitações feitas nos últimos meses pelos militares.


09/02/2013
às 18:58 \ O País quer Saber
 
 
 
PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DESTA SEMANA

 

Mara Gabrilli, deputada federal: as cidades são hostis a pessoas com deficiência

PUBLICADO EM 23 DE MAIO DE 2012

Qualquer pessoa pode ser feliz, garante a deputada federal Mara Gabrilli (PSDB-SP), primeira tetraplégica a ocupar um gabinete no Congresso. “As cidades é que não estão preparadas para receber pessoas com deficiência”, ressalva. Ex-vereadora, Mara chefiou entre 2005 e 2007 a pioneira Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, criada pelo prefeito José Serra. Graças ao bom desempenho no cargo, pousou em Brasília a bordo de mais de  160 mil votos.

Na entrevista dividida em quatro partes, a risonha lutadora lembra o acidente que a imobilizou numa cadeira de rodas, descreve a batalha pela sobrevivência, relata as dificuldades enfrentadas para adaptar-se à rotina dramaticamente modificada pelo destino e registra, com evidente entusiasmo, os avanços ocorridos num país hostil a pessoas com deficiência.


O Brasil seria mais generoso se fosse menos desinformado, acredita a entrevistada. Num encontro com José Sarney, por exemplo, Mara ouviu o presidente do Senado atribuir o interesse que tem pelas bandeiras defendidas pela visitante ao convívio com dois tios portadores da síndrome de Down. A deputada narra esses episódios com o comovente bom humor de quem aprendeu que a vida vale a pena e a dor de ser vivida.

Marco Antonio Villa: Vou-me embora pra Bruzundanga

O Brasil é um país fantástico. Nulidades são transformadas em gênios da noite para o dia. Uma eficaz máquina de propaganda faz milagres. Temos ao longo da nossa História diversos exemplos. O mais recente é Dilma Rousseff.

Surgiu no mundo político brasileiro há uma década. Durante o regime militar militou em grupos de luta armada, mas não se destacou entre as lideranças. Fez política no Rio Grande do Sul exercendo funções pouco expressivas. Tentou fazer pós-graduação em Economia na Unicamp, mas acabou fracassando, não conseguiu sequer fazer um simples exame de qualificação de mestrado. Mesmo assim, durante anos foi apresentada como “doutora” em Economia. Quis-se aventurar no mundo de negócios, mas também malogrou. Abriu em Porto Alegre uma lojinha de mercadorias populares, conhecidas como “de 1,99″. Não deu certo. Teve logo de fechar as portas.

Caminharia para a obscuridade se vivesse num país politicamente sério. Porém, para sorte dela, nasceu no Brasil. E depois de tantos fracassos acabou premiada: virou ministra de Minas e Energia. Lula disse que ficou impressionado porque numa reunião ela compareceu munida de um laptop. Ainda mais: apresentou um enorme volume de dados que, apesar de incompreensíveis, impressionaram favoravelmente o presidente eleito.

Foi nesse cenário, digno de O Homem que Sabia Javanês, que Dilma passou pouco mais de dois anos no Ministério de Minas e Energia. Deixou como marca um absoluto vazio. Nada fez digno de registro. Mas novamente foi promovida. Chegou à chefia da Casa Civil após a queda de José Dirceu, abatido pelo escândalo do mensalão. Cabe novamente a pergunta: por quê? Para o projeto continuísta do PT a figura anódina de Dilma Rousseff caiu como uma luva. Mesmo não deixando em um quinquênio uma marca administrativa ─ um projeto, uma ideia ─, foi alçada a sucessora de Lula.

Nesse momento, quando foi definida como a futura ocupante da cadeira presidencial, é que foi desenhado o figurino de gestora eficiente, de profunda conhecedora de economia e do Brasil, de uma técnica exemplar, durona, implacável e desinteressada de política. Como deveria ser uma presidente ─ a primeira ─ no imaginário popular.

Deve ser reconhecido que os petistas são eficientes. A tarefa foi dura, muito dura. Dilma passou por uma cirurgia plástica, considerada essencial para, como disseram à época, dar um ar mais sereno e simpático à então candidata. Foi transformada em “mãe do PAC”. Acompanhou Lula por todo o País. Para ela ─ e só para ela ─ a campanha eleitoral começou em 2008. Cada ato do governo foi motivo para um evento público, sempre transformado em comício e com ampla cobertura da imprensa. Seu criador foi apresentando homeopaticamente as qualidades da criatura ao eleitorado. Mas a enorme dificuldade de comunicação de Dilma acabou obrigando o criador a ser o seu tradutor, falando em nome dela ─ e violando abertamente a legislação eleitoral.

Com base numa ampla aliança eleitoral e no uso descarado da máquina governamental, venceu a eleição. Foi recebida com enorme boa vontade pela imprensa. A fábula da gestora eficiente, da administradora cuidadosa e da chefe implacável durante meses foi sendo repetida. Seu figurino recebeu o reforço, mais que necessário, de combatente da corrupção. Também, pudera: não há na História republicana nenhum caso de um presidente que em dois anos de mandato tenha sido obrigado a demitir tantos ministros acusados de atos lesivos ao interesse público.

Com o esgotamento do modelo de desenvolvimento criado no final do século 20 e um quadro econômico internacional extremamente complexo, a presidente teve de começar a viver no mundo real. E aí a figuração começou a mostrar suas fraquezas. O crescimento do produto interno bruto (PIB) de 7,5% de 2010, que foi um componente importante para a vitória eleitoral, logo não passou de uma recordação.

Independentemente da ilusão do índice (em 2009 o crescimento foi negativo: -0,7%), apesar de todos os artifícios utilizados, em 2011 o crescimento foi de apenas 2,7%. Mas para piorar, tudo indica que em 2012 não tenha passado de 1%. Foi o pior biênio dos tempos contemporâneos, só ficando à frente, na América do Sul, do Paraguai. A desindustrialização aprofundou-se de tal forma que em 2012 o setor cresceu negativamente: -2,1%. O saldo da balança comercial caiu 35% em relação à 2011, o pior desempenho dos últimos dez anos, e em janeiro deste ano teve o maior saldo negativo em 24 anos. A inflação dá claros sinais de que está fugindo do controle. E a dívida pública federal disparou: chegou a R$ 2 trilhões.

As promessas eleitorais de 2010 nunca se materializaram. Os milhares de creches desmancharam-se no ar. O programa habitacional ficou notabilizado por acusações de corrupção. As obras de infraestrutura estão atrasadas e superfaturadas. Os bancos e empresas estatais transformaram-se em meros instrumentos políticos ─ a Petrobrás é a mais afetada pelo desvario dilmista.

Não há contabilidade criativa suficiente para esconder o óbvio: o governo Dilma Rousseff é um fracasso. E pusilânime: abre o baú e recoloca velhas propostas como novos instrumentos de política econômica. É uma confissão de que não consegue pensar com originalidade. Nesse ritmo, logo veremos o ministro Guido Mantega anunciar uma grande novidade para combater o aumento dos preços dos alimentos: a criação da Sunab.

Ah, o Brasil ainda vai cumprir seu ideal: ser uma grande Bruzundanga. Lá, na cruel ironia de Lima Barreto, a Constituição estabelecia que o presidente “devia unicamente saber ler e escrever; que nunca tivesse mostrado ou procurado mostrar que tinha alguma inteligência; que não tivesse vontade própria; que fosse, enfim, de uma mediocridade total”.


11/02/2013
às 14:58 \ Direto ao Ponto

Grammy: e o troféu abacaxi vai para... Justin Bieber

O ídolo teen Justin Bieber
O ídolo teen Justin Bieber (Jason Merritt/Getty Images)
Quem pagou o maior mico do Grammy 2013? Justin Bieber, sem dúvida. Esnobado pela premiação -- ele não conseguiu uma única indicação apesar de ter lançado um disco de inéditas em 2012, Believe --, o canadense resolveu promover um showzinho ao vivo na internet para concorrer com a transmissão da festa na TV.



Não deu certo. Não que tenha sido um fracasso, pelo contrário: foram tantas as fãs que quiseram acompanhar a apresentação que o streaming não decolou, nem no Twitter nem no site Ustream. O mico foi, isso sim, pela infantilidade do canadense, que não anda mesmo numa boa fase. Perdeu a namorada, Selena Gomez, e viu sua afilhada, Carly Rae Jepsen, brilhar sozinha na festa do Grammy, onde concorria em duas categorias -- a intérprete de Call me Maybe perdeu as duas, o que deve ter feito a alegria do padrinho.

Melhores momentos do Grammy: Veja como foi a premiação

Enquanto os streamings falhavam, Bieber segurava a sua audiência com lamentos -- "Minhas fãs são incríveis, mas é frustrante que a apresentação não aconteça" -- e com promessas de novas postagens no Twitter. É duro ter 18 anos.

Problemas do Vaticano na Itália devem influenciar escolha do novo papa, diz historiador da Igreja



Problemas do Vaticano na Itália devem influenciar escolha do novo papa, diz historiador da Igreja

Para José Oscar Beozzo, do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, Vaticano pode voltar a ser comandado por um italiano




Depois de mais de três décadas, o Vaticano pode voltar a ser comandado por um italiano, retomando uma tradição que dominou a maior parte da sua história – em mais de 2.000 anos, a Igreja Católica já foi comandada por mais de 200 papas nascidos na península italiana. Essa é a avaliação do padre José Oscar Beozzo, coordenador-geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, após o anúncio de que Bento XVI deixará o pontificado no próximo dia 28. Doutor em história social pela Universidade de São Paulo (USP), ele faz parte do Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina e no Caribe (CEHILA-Brasil). Segundo o padre, os problemas enfrentados atualmente pela Igreja na Itália, o país em que está localizado o enclave do Vaticano, devem pesar na escolha do próximo papa. Nos últimos meses, o Banco Central da Itália tem acusado o Vaticano de não ser transparente em sua contas e, recentemente, a Igreja passou a pagar imposto de propriedade no país.


 
 
Para o padre e historiador, não foi só a idade de Bento XVI, que está com 85 anos, que pesou para sua decisão. O escândalo envolvendo o roubo de documentos por parte de seu mordomo também influenciou. “Foi uma violação da sua intimidade. Bento é uma pessoa tímida.” Em 2002, Beozzo escreveu um artigo em que discorreu sobre as questões legais do direito canônico no caso de uma renúncia de João Paulo II, que à época estava com a saúde muito debilitada.

 
Você escreveu sobre a possibilidade de renúncia de um papa há dez anos. Ficou surpreso com a decisão de Bento XVI? O mecanismo da renúncia é previsto no direito canônico. O papa é livre para sair do cargo. Houve casos anteriores, mas praticamente só na Idade Média. Um dos casos aconteceu em 1.294. A situação, claro, chama a atenção. Mas o próprio Bento tinha demonstrado sinais de cansaço e deu indicações de que poderia tomar essa decisão. A idade deve ter pesado, mas houve outros fatores, como a violação da sua intimidade no caso do mordomo que roubou documentos no ano passado. Bento é uma pessoa tímida. Ele também tinha visto o exemplo de João Paulo II, que ficou muito debilitado no cargo, precisando de ajuda para tarefas mínimas. Bento não quis repetir isso, ter um destino semelhante. Também deve ter pesado o exemplo do ex-arcebispo de Canterbury Rowan Williams (o líder espiritual da Igreja Anglicana que renunciou no ano passado após dez anos no cargo). Williams tem só 62 anos e se dava muito bem com Bento XVI.


Quais mudanças devem ocorrer na Igreja? Bento XVI já tinha 78, 79 anos quando assumiu. Também não se esperava um papado longo. O próprio Ratzinger ocupa posições de destaque desde a década de 80. O então cardeal Joseph Ratzinger foi a figura mais influente e poderosa do Vaticano no pontificado de João Paulo II. Ele também foi o último papa a ter participado do Concílio do Vaticano II, nos anos 60. Nenhum dos prováveis candidatos teve essa experiência. Portanto, é o fim de um período.


Bento XVI deve influenciar o processo de escolha do próximo papa? Ele não deve influenciar diretamente o processo de escolha, como um eleitor, mas é lógico que sua opinião vai pesar. Ele nomeou 58% dos cardeais que vão votar.


E qual deve ser o perfil do próximo papa? Dos 210 cardeais que existem, 118 devem votar no conclave. Eles vão levar em conta questões como os problemas políticos na Itália. É possível que o próximo escolhido seja um italiano, que teria mais familiaridade com os problemas. O próprio Ratzinger parece ter dado a indicação nesse sentido. Em 2011, ele transferiu o cardeal Angelo Scola do patriarcado de Veneza para o de Milão. Essa mudança é interessante. Veneza é uma cidade com importância histórica e cultural para a Igreja, mas é um posto confortável. Já Milão é a arquidiocese mais importante da Itália. Vários dos seus chefes se tornaram papas no século XIX e no XX. Paulo VI (1892-1963) foi arcebispo lá.














Perfil

Padre
José Oscar Beozzo
Coordenador-geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (Cesep)

Beozzo é mestre em Sociologia da Religião pela Université Catholique de Louvain (Bélgica) e doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Faz parte do Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina e no Caribe (CEHILA-Brasil). É autor dos livros A Igreja do Brasil (1993) e a A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965 (2005).

Jovens inspiradores na mira do Google



Jovens inspiradores na mira do Google

Feira de Ciências promovida pela companhia quer encontrar adolescentes com potencial para invenção e inovação

Thinkstock
(Thinkstock)

 
A terceira edição da Feira de Ciências do Google busca em todo o mundo os mais brilhantes adolescentes. O objetivo da companhia é encontrar jovens com potencial de mudar o mundo por meio de ideias e projetos inovadores. As inscrições para a competição foram abertas nesta quarta-feira e são válidas para adolescentes entre 13 e 18 anos de todo o mundo.

O evento on-line é organizado pelo Google em parceria com a Cern (Organização Europeia de Pesquisa Nuclear), a fabricante de brinquedos Lego, e as revistas National Geographic e Scientific American. Os jovens têm 90 dias para fazer a inscrição e devem apresentar o seu projeto (investigação profunda de uma questão ou problema de engenharia) até 30 de abril.



O melhor projeto será premiado com uma viagem de dez dias às Ilhas Galápagos, na companhia de uma expedição da National Geographic, cujo objetivo será explorar espécies exóticas comuns na região. O grande prêmio inclui ainda uma bolsa de estudos oferecida pelo Google no valor de 50.000 dólares, assinatura digital da Scientific American, 10.000 dólares para a escola do estudante, além de experiências nas sedes da Lego, Cern e Google.

Os projetos inscritos na Feira de Ciências serão analisados por um júri composto por 15 especialistas de todo o mundo. Entre os critérios de avaliação estão resumo, perfil do inscrito, proposta, pesquisa, metodologia, resultado, conclusão e bibliografia.

Os 90 finalistas (30 das Américas, 30 da Ásia e 30 da Europa, Oriente Médio e África) serão revelados em junho. Os 15 finalistas globais serão escolhidos pelo júri em julho e participarão de um evento na sede do Google, em Mountain View, na Califórnia, no dia 23 de setembro, quando será anunciado o grande projeto vencedor.